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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

As suas mãos estão sujas pelo sangue do genocídio Trans.

Ontem fiquei sabendo da morte de mais uma moça transsexual que a transfobia levou. Quando eu leio essas noticias parte de mim morre também, parte da minha esperança se vai junto a vida daquela pessoa. Dessa vez foi diferente, eu tive um minimo contato com esse ser humano maravilhoso. Tive a oportunidade de assistir uma palestra sua sobre resistência LGBT, aquela época era um período difícil pra mim, mas ouvir aquelas palavras de luta me fez um bem inimaginável, eu precisava ouvir tudo aquilo pra continuar a minha luta.

Kayla cometeu suicídio, mas em suas ultimas palavras deixou bem claro que  "não foram as drogas foi a transfobia". Foram as piadinhas, as risadas, as sucessivas agressões que mataram um ser humano cujo o único pecado para a sociedade era ser quem realmente era. As suas mãos estão sujas pelo sangue do genocídio Trans. 



"Kayla foi assassinada aos poucos por uma sociedade transfóbica, racista, elitista, misógina e segregacionista, até o ponto em que não aguentou mais. Não podemos nos esquecer, jamais, da relevância de Kayla na luta contra as opressões enquanto estudou na Universidade Federal de Viçosa e enquanto viveu"

Nós somos o país que mais mata transsexuais em todo o mundo. A cultura em que vivemos é fechada para xs trans, não existe nada que ensine nas escolas sobre identidade de gênero, a grande maioria dxs transexuais são expulsos de casa e tem como única escolha recorrer para a prostituição. Vendem seus corpos ao capitalismo pela sobrevivência como cidadãos de segunda classe. A verdade é que a sociedade os trata como escória porque julga que sua existência é errado. Com expectativa de vida de 33 anos, aos transexuais é negado o direito de existir. 

Casos registrados de morte por transfobia no Brasil. No ano desse mapa foram 238.

A falta de respeito a identidade de gênero mata. As piadas maldosas matam. Os olhares tortos matam. A discriminação mata. O seu discurso feminista radical contra xs trans mata. A insistência em usar o prefixo ismo quando de fala de transexualidade mata. O fato da identidade de gênero trans ainda ser tratada como doença mata. Mata aos poucos, mata dolorosamente, rouba a alma e depois a vida.

Por fim gostaria de lembra-los de antes de sermos pessoas cis, trans, agênero, héteros, homossexuais e assexuais somos seres humanos com sentimentos, medos, tristezas e felicidades. Peço que pensem por um segundo antes de fazer comentários ácidos, antes de proferirem piadinhas de mal gosto. Esse um segundo de consciência salva vidas. Se os agressores de Kayla tivessem tido esse um segundo de consciência ela hoje estaria viva.

Essa perda nos enfraquece momentaneamente, mas é motivo para nos dar cada vez mais força para lutar e impedir que mais assassinatos como esse sejam cometidos por uma sociedade doentia. Kayla se foi, mas sua força continua conosco todos os dias e continua no mundo ecoando através da eternidade.

Por fim, encerro este post com a fala de Paulo Leminski: isso de querer ser  exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além.